Wednesday, December 14, 2005

Quinto dos Infernos

Eu pago perto de vinte mil reais de imposto de renda, porque o governo entende que o salário fruto do meu trabalho é renda, embora não me sobre um puto tostão no fim do mês; eu pato, digo, pago cerca de dez mil reais de inss, porque o governo mudou uma cláusula pétrea do meu contrato de trabalho, trabalhei durante trinta e dois anos sob a condição de que, quando me aposentasse, eu não pagaria mais. O governo mudou a cláusula de um contrato concluído, acabado, e o supremo disse, na palavra do seu presidente, que o direito "tinha que evoluir" enquanto destruía uma cláusula pétrea da constituição - e eu em casa com o meu nariz de palhaço achando a maior graça.

Depois de pagar tudo isso para o governo federal, para a assistência social, sou obrigado a pagar seis mil reais por ano para um plano de saúde particular porque o estado não fornece saúde decente para minha familía; sou obrigado a pagar mais doze mil reais anuais de faculdade para meus filhos porque não há vagas nas faculdades públicas; sou obrigado a pagar o ipva do carro e os pedágios porque o governo não recupera as estradas; sou obrigado a pagar um vigilante particular e - caros - seguros contra roubo para o carro e a casa porque o governo não provê segurança.

A tudo isso eu chamo pagar impostos de PRIMEIRÍSSIMO MUNDO e RECEBER SERVIÇOS DOS ÚLTIMOS DOS MUNDOS, ou, para ser mais claro, do QUINTO DOS INFERNOS. Depois acharam que o DeGaulle estava errado quando disse que este não era um país sério...

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